Política de Assassinato

Filipe Siqueira
Sabotagem | Cultura & Paranoia
3 min readJun 23, 2017

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Entre 1995 e 1996, o cripto-anarquista James Bell divulgou o manifesto Assassination Politics, que basicamente lançaria as teorias de uma rede completamente anônima de previsões de morte de políticos, ou pessoas que publicamente violam direitos civis. Em associação, a criação de uma rede de assassinos de aluguel seria incentivada para aumentar as chances de um acerto.

É um ensaio em 10 partes, com certo grau de detalhamento, que descreve as bases para uma rede de apostas na morte deles, mais ou menos como uma bolsa de valores — e baseado no termo dead pool, por sinal. Segundo ele, o texto foi uma consequência direta de sua fobia de agentes federais e de impostos, que levaram sua empresa a falência — a SemiDisk, especializada em construção de dispositivos de armazenagem.

O ensaio chegou a ganhar prêmio de inovação e o colocou na mira do governo. Não pelo texto em si, considerado “protegido pela Primeira Emenda”, segundo julgamento da Suprema Corte americana, mas por sonegação de impostos, falsificação de documentos e ameaças a agentes federais. Por consequência direta desse escrutínio governamental, Bell entrou e saiu da cadeia diversas vezes desde a publicação do texto.

Mas a revolução já estava plantada. Seu ensaio não foi apenas uma predição do sucesso futuro das criptomoedas, como também foi a base para um um plano do governo para prever ataques terroristas, o FutureMap.

O ensaio completo de Bell está disponível no Cryptome, site cujo dono participou da mesma lista que Bell, a Cypherpunks (onde Snowden e Julian Assange também davam as caras).

Abaixo, um trechinho:

Eu especulei que o uso de métodos modernos de criptografia e chave pública e “dinheiro digital” anônimo tornaria possível fazer concessões de uma forma que ninguém saberia quem está sendo premiado com o dinheiro, apenas que o prêmio está sendo dado. Mesmo a própria organização não teria nenhuma informação que pudesse ajudar as autoridades a encontrar a pessoa responsável pela previsão, e muito menos o que causou a morte.

Não era a minha intenção criar um “osso duro de roer”, tais como argumentaram, afirmando que uma pessoa que contrata um assassino não é culpado de assassinato sob os princípios libertários. Obviamente, o problema com o caso geral é que a vítima pode ser totalmente inocente sob os princípios libertários, o que tornaria matar um crime, levando à questão de saber se a pessoa que oferece o dinheiro é culpada.

Pelo contrário; minha especulação assumido que a “vítima” é um funcionário do governo, presumivelmente alguém que não está meramente dando um cheque roubado para pagar impostos, mas também é culpado de violações extras de direitos além deste. (Agentes governamentais responsáveis ​​pelo incidente de Ruby Ridge e Waco vêm à mente.) Ao receber esse dinheiro e em seus vários atos, ele viola o “princípio da não agressão” (NAP) e, portanto, presumivelmente, quaisquer atos contra ele e não o são iniciação da força sob os princípios libertários.

A organização criada para gerir tal sistema poderia, presumivelmente, fazer uma lista de pessoas que haviam violado gravemente o NAP, mas que não iriam encarar a justiça em nossos tribunais devido ao fato de que suas ações foram feitas a mando do governo. Associado a cada nome estaria um montante total de dinheiro que a organização recebeu como uma contribuição, que é a quantidade que daria para quem corretamente “prever” a morte da pessoa, presumivelmente nomeando a data exata. Apostadores iriam formular a sua aposta em um arquivo, criptografá-lo com a chave pública da organização, em seguida, transmiti-lo para a organização, possivelmente usando métodos não rastreáveis ​​como colocar um disco flexível em um envelope e enviá-lo em uma caixa de correio, porém mais provavelmente através de uma cascata de emails criptografados anônimos, ou, eventualmente, locais de Internet de acesso público, como terminais em uma biblioteca local, etc.

As bases do ensaio de Bell servem como uma das correntes de história do livro que estou escrevendo/revisando faz um tempo. Quem se interessa por criptografia, anarquia e iniciativas anti-governo sem dúvida achará interessante, mesmo não apoiando as ideias de Bell.

[Cryptome]

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